“Adentrar noturnamente. Fluir, fruir e frutar. Dançar, performar, formar, não formar, informar, acionar.
Fazer, aparecer e refazer. Corporificar desejo”.
Fazer, aparecer e refazer. Corporificar desejo”.
terça-feira, 29 de março de 2011
segunda-feira, 28 de março de 2011
Crítica
Postado por Rodrigo Monteiro em 26/03/2011
Foto: Danny Bittencourt
Intervenção
Feedback é resultante dos projetos Dalí Daqui (2009) e Olho3 (2010), Prêmios do Edital Interações Estéticas/Residências artísticas em Pontos de Cultura - Funarte – MinC. Entre as muitas propostas interessantes que esse projeto apresenta, talvez uma das mais interessantes seja a de levar a dança ao lugar onde ela acontece naturalmente: uma boate, uma danceteria, um clube. A partir desse único aspecto já é possível pensar sobre várias questões que o espetáculo pode despertar. A primeira delas é a noção de espetacularidade.
Há um limite claro no teatro: o personagem. Considerando o personagem uma equação de características, se 99,9% do personagem for igual ao ator que o interpreta diante de um público (uma pessoa pelo menos), é o 0,1% que fará a diferença entre o personagem e o ator. Se aceitarmos a ideia de que somos diferentes de nós mesmos em cada discurso, então, ampliaremos a noção de personagem, sem desconsiderá-la. A dança, no entanto, tem outro código. Não é no personagem que se encontra o cerne do sistema dança, mas no encadeamento dos movimentos ou, de uma forma mais acadêmica, nos signos cinéticos. Se no teatro os signos todos se referem, antes de tudo, ao personagem, na dança, o processo é reflexivo. Os signos cinéticos se referem a eles mesmos. É justamente por isso que a dança é muito mais livre que o teatro e muito mais aberta em possibilidades estéticas que o teatro. Dessa forma, o limite da dança inexiste: qualquer movimento pode ser visto como uma dança. Sendo o Cabaret, uma pista de dança onde as pessoas vão para dançar, onde está a espetacularidade dos atores que lá vão para dançar? Em Feedback, o teatro está no figurino, nos focos de luz, na maquiagem.
No meio da festa, uma música quebra a rotina das anteriores, um grupo de dançarinos se diferencia dos demais, algumas luzes se acendem sobre eles e não sobre quem não é eles. Por fim, quatro bailarinos dançam uma coreografia e um quinto artista dubla uma música. Está instaurada a intervenção ou a espetacularidade.
Denis Gosch, Gustavo Cardoso, Aline Jones e Rossendo Rodrigues batem os pés no chão e sustentam uma série de movimentos fortes e precisos. Sucede isso, passos de dança, movimentos pelo espaço, maior leveza. Charlene Voluntaire (Charles Machado) está vestido de violeta, brilhos, maquiagem, unhas e cílios e dubla uma música do chamado “repertório gay”. Três acontecimentos que se relacionam e se redundam: a música quebra a rotina das músicas anteriores, a coreografia quebra a rotina da liberdade individual anterior, a estética (figurinos, luz, maquiagem) quebra a rotina do ambiente. Três afirmações postas numa página, marcando ela, diferente dela. Dizer ou sugerir alguns significados para essas afirmações é menos importante do que chamar a atenção para a existência de significado na apresentação da diferença.
O Cabaret não é uma Boate Gay. Tampouco é um lugar heterossexual. O Cabaret é um lugar aberto a todos os públicos e se pauta na cidade pela livre convivência entre todas as orientações sexuais. Feedback, em seu corpo, fala das diferenças, se diferencia, significa. O fim de Feedback é a pequena multidão de espectadores voltando a dominar a pista e os dançarinos sumindo entre as pessoas. A diferença deixa de existir quando passa a ser semelhança. Outras diferenças virão, porque o processo de significação é cíclico. Fica a proposta de reflexão, a pulga atrás da orelha, o sabor. Jussara Miranda, quem concebeu e dirige o projeto, acerta em não apresentar sem ofender: Feedback não quebra o ritmo da festa, não força a atenção das pessoas, não convoca. O interesse é despertado naturalmente pela presença diversa e divertida. E dura exatamente o tempo que dura uma música normal, não ocupa o espaço além do desconforto, não agride. E, por isso, só ganha: em disposição, em atenção e em fruição.
Além dessa questão aqui apresentada, outras existem e são passíveis de serem utilizadas como ponto de partida para uma análise desse “espetáculo”. A relação com o público, as coreografias, os figurinos, a relação entre os performers, a própria questão da performance versus a da espetacularidade, uma narrativa sugerida, a temática da diferença, entre outras muitas. Todas elas são sinais de que o projeto, em termos de seu acontecimento, é rico e profundo, embora disfarçado sob a alegria da festa, o intervalo, a intervenção poética.
http://teatropoa.blogspot.com/2011/03/feedback.html
Foto: Danny Bittencourt
Intervenção
Feedback é resultante dos projetos Dalí Daqui (2009) e Olho3 (2010), Prêmios do Edital Interações Estéticas/Residências artísticas em Pontos de Cultura - Funarte – MinC. Entre as muitas propostas interessantes que esse projeto apresenta, talvez uma das mais interessantes seja a de levar a dança ao lugar onde ela acontece naturalmente: uma boate, uma danceteria, um clube. A partir desse único aspecto já é possível pensar sobre várias questões que o espetáculo pode despertar. A primeira delas é a noção de espetacularidade.
Há um limite claro no teatro: o personagem. Considerando o personagem uma equação de características, se 99,9% do personagem for igual ao ator que o interpreta diante de um público (uma pessoa pelo menos), é o 0,1% que fará a diferença entre o personagem e o ator. Se aceitarmos a ideia de que somos diferentes de nós mesmos em cada discurso, então, ampliaremos a noção de personagem, sem desconsiderá-la. A dança, no entanto, tem outro código. Não é no personagem que se encontra o cerne do sistema dança, mas no encadeamento dos movimentos ou, de uma forma mais acadêmica, nos signos cinéticos. Se no teatro os signos todos se referem, antes de tudo, ao personagem, na dança, o processo é reflexivo. Os signos cinéticos se referem a eles mesmos. É justamente por isso que a dança é muito mais livre que o teatro e muito mais aberta em possibilidades estéticas que o teatro. Dessa forma, o limite da dança inexiste: qualquer movimento pode ser visto como uma dança. Sendo o Cabaret, uma pista de dança onde as pessoas vão para dançar, onde está a espetacularidade dos atores que lá vão para dançar? Em Feedback, o teatro está no figurino, nos focos de luz, na maquiagem.
No meio da festa, uma música quebra a rotina das anteriores, um grupo de dançarinos se diferencia dos demais, algumas luzes se acendem sobre eles e não sobre quem não é eles. Por fim, quatro bailarinos dançam uma coreografia e um quinto artista dubla uma música. Está instaurada a intervenção ou a espetacularidade.
Denis Gosch, Gustavo Cardoso, Aline Jones e Rossendo Rodrigues batem os pés no chão e sustentam uma série de movimentos fortes e precisos. Sucede isso, passos de dança, movimentos pelo espaço, maior leveza. Charlene Voluntaire (Charles Machado) está vestido de violeta, brilhos, maquiagem, unhas e cílios e dubla uma música do chamado “repertório gay”. Três acontecimentos que se relacionam e se redundam: a música quebra a rotina das músicas anteriores, a coreografia quebra a rotina da liberdade individual anterior, a estética (figurinos, luz, maquiagem) quebra a rotina do ambiente. Três afirmações postas numa página, marcando ela, diferente dela. Dizer ou sugerir alguns significados para essas afirmações é menos importante do que chamar a atenção para a existência de significado na apresentação da diferença.
O Cabaret não é uma Boate Gay. Tampouco é um lugar heterossexual. O Cabaret é um lugar aberto a todos os públicos e se pauta na cidade pela livre convivência entre todas as orientações sexuais. Feedback, em seu corpo, fala das diferenças, se diferencia, significa. O fim de Feedback é a pequena multidão de espectadores voltando a dominar a pista e os dançarinos sumindo entre as pessoas. A diferença deixa de existir quando passa a ser semelhança. Outras diferenças virão, porque o processo de significação é cíclico. Fica a proposta de reflexão, a pulga atrás da orelha, o sabor. Jussara Miranda, quem concebeu e dirige o projeto, acerta em não apresentar sem ofender: Feedback não quebra o ritmo da festa, não força a atenção das pessoas, não convoca. O interesse é despertado naturalmente pela presença diversa e divertida. E dura exatamente o tempo que dura uma música normal, não ocupa o espaço além do desconforto, não agride. E, por isso, só ganha: em disposição, em atenção e em fruição.
Além dessa questão aqui apresentada, outras existem e são passíveis de serem utilizadas como ponto de partida para uma análise desse “espetáculo”. A relação com o público, as coreografias, os figurinos, a relação entre os performers, a própria questão da performance versus a da espetacularidade, uma narrativa sugerida, a temática da diferença, entre outras muitas. Todas elas são sinais de que o projeto, em termos de seu acontecimento, é rico e profundo, embora disfarçado sob a alegria da festa, o intervalo, a intervenção poética.
http://teatropoa.blogspot.com/2011/03/feedback.html
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